A Primeira Bomba Atómica
No dia 7 de
Dezembro de 1941 os japoneses lançaram um intenso ataque surpresa
sobre uma América tranquila. 360 aviões descolaram de porta-aviões
situados a Nordeste do Hawai e atacaram a base naval americana
de Pearl Harbour. Os japoneses justificavam o ataque a Pearl Harbour
pelo facto de os americanos levarem a cabo um embargo de petróleo
ao Pacífico mas para o presidente Roosevelt este ataque foi a
gota de água que fez transbordar o copo e a América entrou na
II Grande Guerra. Durante a década de 30 os japoneses haviam montado
a sua máquina de guerra. Nesta altura a guerra continuava a correr
mal para os aliados. O Japão tinha dominado rapidamente as Filipinas
e quase todo o Pacífico e, na América, todos os dias a rádio transmitia
más notícias.
Foi
por esta altura que a bomba atómica se tornou uma possibilidade
real. Em 1939, Albert Einstein, um distinto cientista refugiado
nos Estados Unidos, enviou uma carta a Roosevelt avisando que
Hitler poderia estar a desenvolver uma nova e extraordinária bomba,
uma arma tão poderosa que era capaz de destruir cidades inteiras
em segundos. Roosevelt mandou imediatamente que se formasse uma
comissão para acelerar a pesquisa atómica americana.
Quimicos como Henrico Fermi, tinham calculado que bastariam apenas
algumas gramas de um elemento instável (como o urânio) para criar
uma explosão de uma intensidade nunca antes vista. Em meados de
1942, Roosevelt confiou aos cientistas americanos o projecto científico
mais caro da história: pôr a teoria à prova e produzir uma bomba
atómica. J. Robert Oppenheimer, brilhante físico teórico da Califórnia
foi nomeado director científico do projecto. Oppenheimer insistia
num laboratório especialmente construído para o efeito. Possuía
um rancho numa região remota do Novo México e escolheu o topo
de uma colina próxima, um local chamado Los Alamos. Oppenheimer
recrutou os melhores cientistas norte-americanos, escolheu-os
em várias universidades dos Estados Unidos e trouxe-os para o
clima hostil do Novo México.
O
Projecto Manhattan, como foi designada a aventura da bomba atómica,
envolveu a construção de um grande centro de pesquisa em Los Alamos
e duas outras grandes instalações, uma em Oakbridge (Tenessee)
e outra em Hanford (Washington). Oficialmente, Los Alamos não
existia, não figurava em lado algum, era simplesmente o apartado
1663 SANTA FE. O projecto custava 2 biliões de dólares e envolvia
200.000 pessoas mas apenas um número diminuto delas conhecia o
verdadeiro objectivo do seu trabalho. Roosevelt exigiu segredo
absoluto. Nem Harry Truman teve conhecimento do que se passava
até se tornar presidente, devido à morte de Roosevelt. Em 1942,
Truman - nesta altura senador pelo Missouri - presidiu à Comissão
Especial de Investigação do Programa de Defesa Nacional. Directo
e franco, foi famoso pela sua determinação em erradicar despesas
militares supérfluas. Descobriu a existência de um projecto secreto
que custava biliões de dólares e quis saber mais acerca dele.
Mas o secretário de guerra ordenou-lhe que não investigasse.
No dia 2 de Dezembro de 1942, deu-se um avanço notável: Henrico
Fermi, em Chicago, conseguiu produzir uma reacção em cadeia no
laboratório. A partir desse dia Oppenheimer ficou com a certeza
de que a bomba era possível.
Enquanto os seus aliados europeus se debatiam na guerra contra
a Alemanha nazi, as batalhas no Pacífico constituiam o pesadelo
da América. Milhões de elementos das forças armadas foram atirados
para esta guerra a fim de virar a maré contra os japoneses. Travaram
uma série de combates ferozes para reverter a expansão nipónica.
Midway em 1942 e depois Guadalcanal foram recuperados. O curso
da guerra alterou-se e, pouco a pouco, as ilhas do Pacífico foram
reconquistadas. Em finais de 1944 a esquadra aliada tinha alcançado
Iwo Jima. Iwo Jima era uma pequena ilha com cerca de 13Km de comprimento,
pouco mais que um monte de rocha vulcânica mas os japoneses juraram
defendê-la até ao último homem. A batalha envolveu dezenas de
aeronaves e cerca de 800 navios. Ainda hoje, esta é uma batalha
recordada como uma das maiores e mais ferozes batalhas travadas
pelas forças armadas norte-americanas. Em Iwo Jima, 1 em cada
2 fuzileiros foi morto ou ferido. O general Douglas MacArthur,
comandante-supremo das forças do Pacífico disse a Roosevelt que
se os americanos invadissem o Japão podiam sofrer cerca de 500
mil baixas.
Entretanto a equipa de Oppenheimer avançava rapidamente. No início
de 1945, era já claro que teriam a tecnologia, o saber e os meios
indispensáveis para produzirem uma bomba atómica em meados do
mesmo ano. Mas os Estados Unidos teriam que adaptar um avião de
forma a conseguir lançá-la. O B-29, uma superfortaleza voadora,
tinha sido especialmente concebido para missões de bombardeamento
com um grande raio de acção nas ilhas do Pacífico e no Japão.
Os seus motores de concepção recente e a cabina pressurizada permitiam-lhe
voar a grande altitude (tecto de 30.000 pés) de forma a poder
escapar ao ataque de caças e baterias anti-aéreas. Os B-29 tinham
ainda novos sistemas de bombardeamento de precisão e cada aparelho
podia transportar 10 toneladas de explosivos de alta potência.
Com
a captura das Ilhas Marianas, Tóquio e outras cidades japonesas
estavam agora dentro do raio de acção da força áerea americana.
Dia após dia, uma sucessão interminável de Bês-29 saíam das bases
de Guam, Saipan e Tinian para bombardear as principais cidades
e enfraquecer a máquina de guerra do Japão. Em Março de 1945,
as defesas aéreas japonesas quase tinham desaparecido. Os B-29
cruzavam os céus do Japão à vontade. Em meados de Março de 45,
mais de 300 super-fortalezas B-29 atacaram Tóquio. No conjunto
lançaram 100 toneladas de bombas incendiárias sobre a cidade.
O ataque provocou uma tempestade de fogo que destruiu as velhas
casas de madeira e quando terminou mal restava um edifício de
pé. Haviam perecido 100.000 pessoas.
Mas o Japão ainda não parecia estar perto da rendição. No final
de 1944 aparecera uma nova e mortífera ameaça japonesa na forma
de ataques Kamikaze. Estes aviões suicidas tiveram um efeito devastador
sobre a marinha americana. Eram bombas voadoras com piloto humano
e conseguiram afundar 30 navios norte-americanos e danificar mais
de 300. No dia 1 de Abril de 1945 teve início outro grande ataque
americano, desta vez na ilha de Okinawa. Esta ilha era considerada
o ensaio geral para a grande invasão do Japão. Doze dias mais
tarde a morte de Franklin Eleanor Roosevelt surpreendeu o mundo
aliado. O presidente americano falecia de uma hemorragia cerebral
aos 63 anos. A nação americana chorou-o e a equipa de Oppenheimer
mais que ninguém. Roosevelt apoiara e acarinhara o projecto da
bomba atómica e agora estava morto não se sabendo se o projecto
lhe sobreviveria.
No princípio da noite de 25 de Abril de 1945, Harry S. Truman
tomava posse como presidente dos Estados Unidos. Truman tentou
continuar a política de Roosevelt mantendo as imposições de rendição
incondicional para todos os países do Eixo. Apesar de ter sido
vice-presidente de Roosevelt, fora negado a Truman acesso a informação
secreta sobre a guerra. De súbito herda todas as responsabilidades
de Roosevelt como comandante-supremo de todas as forças armadas
da nação, responsabilidades que incluíam a decisão de lançar ou
não uma bomba atómica sobre o Japão.
No princípio de Maio, os cientistas de Los Alamos empregaram 100
toneladas de explosivos de alta potência num local destinado a
testes no deserto. A explosão permitir-lhes-ia calibrar os instrumentos
de forma a registar os danos causados pela explosão de uma bomba
atómica. Isto ocorreu um dia antes da declaração da vitória aliada
na Europa. "Muito há para fazer. A vitória conseguida no Ocidente
deve agora ser conseguida no Oriente. O mundo inteiro tem que
ser limpo do mal do qual metade do mundo tem estado livre. A capacidade
do nosso povo para se defender contra todos os inimigos será provada
no círculo do Pacífico tal como foi provada na Europa" (discurso
de Truman).
Apesar de
as forças japonesas quase não disporem de apoio aéreo ou naval
a luta em Okinawa prolongou-se por Abril e Maio. Em todas as zonas
de combate as tropas ainda encontravam muita resistência. Ainda
que alguns soldados japoneses começassem a render-se, a ideia
de uma invasão do Japão despertava o medo de sofrer pesadas baixas.
Era essencial manter a moral dos soldados americanos e os artistas
americanos esforçavam-se por manter a boa disposição. "Os japoneses
sabem agora que os seus sonhos de conquista estão desfeitos. Já
não pensam que podem ditar os termos da paz em Washington. No
entanto, isto não quer dizer que os japoneses tenham desistido
da esperança. Eles estão a contar que a América se canse desta
guerra e dos sacrifícios que ela exige. Eles contam com o nosso
desejo de ver os nossos soldados regressar e o nosso desejo de
paz para nos forçar a aceitar um compromisso que não o da rendição
incondicional" (discurso de Truman).
Políticos, chefes militares e cientistas começaram a reunir-se.
A questão já não era usar ou não a bomba contra o Japão mas quando
e onde. O encontro crucial de 31 de Maio iria avaliar os efeitos
que uma bomba atómica sobre o Japão teria. Apesar de ninguém saber
exactamente, Oppenheimer calculava que o número de mortos rondaria
os 20.000. Para facilitar a estimativa dos danos o alvo seria
uma grande cidade japonesa que ainda não tivesse sido bombardeada.
Com os preparativos para testar a bomba atómica quase concluídos
alguns defendiam que os japoneses deveriam ser convidados a testemunhar
o poder terrível da nova arma. Oppenheimer não concordava pois
temia que o teste falhasse. Assumindo que o teste seria bem sucedido,
os japoneses deveriam ser avisados antes do lançamento? Nesse
caso poderiam deslocar prisioneiros de guerra americanos para
a zona aliada. A reunião do Pentágono de 31 de maio decidiu a
atitude que os Estados Unidos tomariam quando a bomba estivesse
pronta: seria lançada sem avisar os japoneses.
No
dia 1 de Junho, Truman concordou com a recomendação da Comissão.
Em Julho, o presidente americano partiu para uma conferência em
Postdam, na Alemanha, destinada a distribuir o mundo do pós-guerra
com os outros aliados. Os russos informaram-no que estavam dispostos
a negociar se pudessem manter o imperador. Truman não queria concessões.
O presidente americano estava também disposto a pôr fim à guerra
antes de os russos se envolverem e, possivelmente, fazerem exigências
territoriais no Extremo Oriente. A bomba dava a Truman a possibilidade
de terminar a guerra apenas nos termos americanos.
No dia 6 de Julho às 5h30, a bomba experimental explodiu no deserto
do Novo México. A sua potência era equivalente a 18.000 toneladas
de TNT. Os resultados foram telegrafados a Truman que se encontrava
em Postdam e este disse a Estaline que os Estados Unidos possuíam
uma nova arma extremamente poderosa. Sem que Truman soubesse,
os serviços secretos soviéticos já tinham conhecimento do projecto
da bomba atómica. Mas ninguém parecia avaliar realmente o seu
terrível potencial (veja-se a este propósito as memórias de Sakarov).
O
comandante supremo das forças aliadas na Europa, o general Dwight
Eisenhower opunha-se ao lançamento da bomba uma vez que o Japão
já estava derrotado. O chefe do estado-maior da marinha concordava
com o lançamento. Mas Truman já ponderara todos os aspectos do
problema e tomara uma decisão. Foi no dia 24 de Julho de 1945
que o presidente Truman decidiu formalmente lançar a bomba atómica.
A ordem dizia o seguinte: "O grupo misto 509 da 20ª força aérea
lançará a sua primeira bomba especial logo que o tempo permita
bombardeamento visual a partir de uma data próxima do dia 3 de
Agosto sobre um destes alvos: Hiroshima, Kokura, Igata e Nagasaki".
Na madrugada de 6 de Agosto de 1945, o Enola
Gay deixou a ilha de Tinian no Pacífico transportando a primeira
bomba atómica. Três horas depois de ter partido de Tinian aproximou-se
de Iwo Jima e encontrou-se com dois aviões de observação que registariam
a explosão. O céu estava limpo e não havia registo de aviões inimigos
ou baterias anti-aéreas. Pouco depois das 9h15, o capitão lançou
a bomba que tinha o nome de código de "rapazinho". Passados 15
segundos explodia sobre Hiroshima antes de tocar no solo. A bomba
atómica destruíra tudo. 78.000 pessoas morreram instantaneamente.
Mas o efeito da radiação sobre os sobreviventes ultrapassou a
imaginação humana. O lançamento da bomba atómica foi realmente
um acontecimento decisivo na história mundial. Alterou a natureza
da guerra para sempre. Todos os conflitos futuros seriam realizados
com o conhecimento da destruição terrível que uma bomba atómica
podia provocar.