Himmler, o Executor (biografia de Himmler) - Continuação Voltar à página anterior
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Na igreja do convento de Quedlinburg, Himmler reescreve a história. "A montanha do castelo de Quedlindburg, habitada há milénios por gente do nosso sangue, com o seu maravilhoso templo criado com sentimento germânico, será um local sagrado ao qual nós alemães, iremos em peregrinação" (Himmler).

Verão de 1936: o milénio da morte do rei alemão Henrique I. As SS tomam posse da catedral de Quedlinburg. Aqui, Himmler, como chefe no meio dos seus homens, despe a máscara do subalterno zeloso transformando-se no grão-mestre da inabalável ordem alemã. Aqui, sob a protecção do rei Henrique, antepassado por ele escolhido, dedica-se a planos arrojados que não ousa esboçar perto de Hitler. Se existiu algum Himmler, para além do mero executor, teve em Quedlinburg a sua hora visionária. "E propomo-nos a termos sempre presente que a melhor maneira de o honrar será servindo o homem que, passados mil anos, retomou a herança humana e política do rei Hnerique, de uma forma anteriormente nunca vista. Será servindo o nosso Führer, Adolf Hitler, a Alemanha, a Germânia, em pensamento, palavra e acção com a lealdade e o espírito antigos" (Himmler).

A história alemã é transformada na pré-história do nacional-socialismo, o passado adaptado à ideologia nazi. Mas qual é a visão de Himmler do futuro? Que perspectivas dá aos seus seguidores? Na realização do culto que ídolos adoravam aqueles jovens recrutados?

"Preparámo-nos e marchamos de acordo com leis imutáveis como uma ordem nacional-socialista de soldados obedecendo à sua origem nórdica e como comunidade fiel aos seus costumes. Caminhamos para um futuro longínquo e desejamos e acreditamos..." (Himmler).

Marcham para o nevoeiro nórdico, grandes e errantes num futuro sombrio. As visões do futuro de Himmler são visões do passado. Os futuros alemães não seriam mais que Nibelungos sobre foguetes: a verdade era a guerra. Para os soldados de Himmler não havia um paraíso terreno, nem um paraíso no outro mundo, acreditavam apenas no combate pelo combate.

Em 1939, depois da invasão da Polónia, Hitler desloca-se à frente de combate. Com o avanço dos soldados alemães, o poder tenebroso de Himmler cai também sobre a Europa ocupada. As SS queriam ser uma élite de soldados mas também nas suas fileiras se cometem crimes de guerra. Actualmente, os veteranos da guerra ainda não ultrapassaram isso: "Éramos soldados excelentes. Arrojados e tudo o mais, bem equipados, etc. E depois entra nas SS a Gestapo com toda aquela escumalha! Não tínhamos nada a ver com eles" (ex-soldado SS, anónimo). "Aquele comando dos SD queria uma aproximação às tropas, tanto aos oficiais como aos soldados mas para nós eram gente desonesta, como na Idade Média os carrascos. Não havia qualquer ligação ou relação. Eram desprezados e segregados" (G. Schenck).

Mas, por muito orgulho que Himmler tivesse nas SS, não era soldado, era polícia. O SD, a Gestapo, as Brigadas de Acção são o mundo de Himmler. Faz a sua guerra contra os fracos. O Genocídio começa silenciosamente. Nas povoações de judeus são afixadas placas onde se avisa que é proibido parar. Polícias vigiam essas áreas. São os ghettos. No Leste, os ghettos não são novidade mas agora transformam-se em prisões.

Tudo começou com campos correccionais. Himmler e Heydrich são os arquitectos desta obra monstruosa, que se passeiam na casa de Hitler, em Obersalzberg. Sabiam como dar um ar inofensivo aos seus campos de concentração. "Presenciei uma única vez Hitler a referir-se, à mesa, a Himmler e aos campos de concentração (Konzentrations Lager) mas, como sempre, dava a impressão de que eram campos de trabalho. Hitler afirmou que Himmler utilizava um método muito hábil. Uma vez, por exemplo, encarregou um conhecido incendiário da guarda de vigias contra incêndios. Claro que Himmler disse 'Pode ter a certeza, meu Führer, de que não haverá nenhum incêndio!'. Dava a sensação de que era um campo de trabalho bem organizado e habilmente dirigido em termos de organização. E foi a única vez que ouvi mencionar os campos de concentração e também a única em que ouvi Hitler falar de Himmler e transparecia um certo respeito e admiração pelo seu talento como organizador" (Traudl Junge).

Por ocasião do dia da polícia, Himmler pronuncia-se sobre o belo mundo novo dos seus campos de concentração: "Os campos de concentração são, como todas as privações de liberdade, uma medida dura e severa. Um trabalho duro que cria novos valores. Uma vida ordenada. Um grande asseio físico e na habitação. Boa comida. Um tratamento severo mas justo. A divisa dos campos é esta: há um caminho que conduz à liberdade, este passa pela obediência, pelo esforço, pela sinceridade, pela ordem, o asseio, a sobriedade, a autenticidade do espírito de sacríficio e o amor à pátria..." (Himmler).

Himmler goza da aprovação do seu Führer e continua a construir o seu mundo tenebroso. A sua ordem negra é um estado secreto dentro do Estado ao qual quer agora dar uma capital. As SS compram o castelo Wewelsburg na Westfália (Westfalen) e transformam-no num lugar de culto.

O modelo é o castelo de Monsalvat da lenda de Parsifal. Ali se encontrava o Santo Graal procurado pelos cavaleiros. Também o Monsalvat de Himmler deverá ser um Santo Graal, morada dos espíritos dos cavaleiros das SS mortos em combate. Mais cedo ou mais tarde, a aldeia perto do castelo deverá desaparecer pois a capital de Himmler não tolera a aldeia junto de si. As obras do castelo de Himmler são realizadas por prisioneiros. No local há uma faixa com o dizer "devemos agradecer ao Führer por estarmos a trabalhar aqui".

"Na sala de culto, por cima do mausoléu, polimos à mão o chão de mármore da sala das colunas" (Maxwell Weger, prisioneiro do campo de Weweslburg). A pequena aldeia de Wewelsburg teve o seu campo de concentração próprio, mais um no Gulag de Himmler. Inicialmente não era uma campo de extermínio mas acabará por sê-lo pois a maioria dos que para ali vão morrerá.

"Os responsáveis das SS pela construção estavam interessados em concluir as casas para as suas famílias que estavam então em construção, enquanto o campo servia para o extermínio. A estatística de 1943 era de 63,7% de mortos, dos quais 21% professavam a mesma fé que nós" (Maxwell Weger, prisioneiro do campo de Weweslburg).

Maxwell Weger é testemunha de Jeová, que naquela altura se denominavam estudiosos da Bíblia. Tal como os judeus, os ciganos, os homossexuais, também os estudiosos da Bíblia eram perseguidos pelos nazis. Weger passou 7 anos em campos de concentração, incluindo Wewelsburg. Ao longo desses anos, por necessidade e compaixão, transforma-se praticamente num médico. "Um prisioneiro mal tratado, com um distintivo preto, um marginal, portanto, tinha um fleimão. Um fleimão é uma supuração do tecido celular debaixo da pele irrigada. Punha-lhe ligaduras todas as noites servindo-me para isso de camisas que rasgávamos. Todas as noites tinha de tirar uma mão-cheia de vermes com a ajuda de uma espátula de madeira, até os vermes corroerem toda a coxa até à coluna. Então o homem morreu" (Maxwell Weger).

Era mesmo assim nos campos de Himmler e este campo ficava na própria Alemanha, numa pequena aldeia. Mas o Genocídio realizou-se noutro local. "Se os outros povos vivem bem ou morrem de sofrimento ou de fome só me interessa na medida em que precisamos deles como escravos para a nossa cultura. De resto não me interessa. Se 10.000 mulheres russas morrem de cansaço na construção de uma trincheira para tanques, só me interessa na medida em que a trincheira para a Alemanha fique pronta" (discurso secreto de Himmler para oficiais SS em Posem, a 4 de Outubro de 1943.
Himmler em Praga com Hitler e Heydrich

Na rectaguarda da frente Leste, judeus, comunistas, ciganos, homossexuais, resistentes alemães, marginais e criminosos... são fuzilados. As Brigadas de Acção de Himmler não passam de comandos assassinos da SD. Desde que Himmler se obrigara a assistir a uma execução preocupava-se com os nervos dos seus assassinos. Quem se ocupava dos assassínios eram as Brigadas de Acção. Este facto era um segredo do Reich mas foi sendo divulgado.

"Então chegaram os comandos da SD, incumbidos do extermínio dos judeus. Começaram por afixar cartazes no sentido de os judeus se apresentarem para serem levados para regiões seguras. Muitos apresentaram-se. No meu hospital de campanha, por exemplo, havia raparigas judias a trabalhar como ajudantes e que eram aí sustentadas para os soldados terem com quem 'conversar' em alemão. Então, as que se tinham apresentado, segundo soubemos depois, foram fuziladas e enterradas. Na zona de Tanganrog há muitos barrancos para onde foram atiradas" (G. Schenck).

Em Berlim, em inícios de 1942 e em hora e meia foi decidida a maneira mais eficaz de matar os judeus de toda a Europa. O início da chamada solução final. Mas era necessário que os assassínios fossem realizados com maior limpeza, mais ordenados, silenciosos e eficazes. É que, não se sabia quantos milhões de pessoas teriam de ser eliminadas. Era preciso pôr ao corrente os ministérios e serviços públicos.

As expressões de assassínio ou morte em câmara de gás nunca eram referidas. Quem não quisesse não precisava de saber para onde iam os transportes. No início experimentou-se o assassínio com gases de escape de automóvel mas isso não era prático e passou-se ao insecticida Zyclon B, que passou a ser utilizado em larga escala nas câmaras de gás.

Nos campos, os médicos transformavam-se em assassinos. Em vez de assassínio chamava-se selecção. Alguns médicos chegavam ao ponto de considerar a "selecção" um acto de misericórdia: "Com as selecções as pessoas eram mortas mas de qualquer maneira teriam morrido e através da selecção morriam de uma forma mais humana do que se as deixassem morrer aos poucos.
E quando se viu alguém morrer à fome... à frente de um tacho cheio... porque isso eles tinham... tinham sopa e pão, podiam encher a barriga. Em termos de calorias não era forçoso morrerem, ainda podiam viver. Mas estavam completamente... estavam completamente magros, a água acumulava-se nos pés e na cara. Sofriam de hidropisisa por falta de proteínas" (testemunho actual! de um médico nazi).

Era suposto o Genocídio orenado por Himmler obedecer a uma disciplina fria mas isso não era possível. A falta de compaixão torna-se uma obrigação, matar friamente significava ser forte. Separam-se assim as mães dos filhos pequenos, fazem-se experiências médicas (em Auschwitz, apenas as crianças-cobaias do Dr. Mengel sobreviveram) e cometem-se todas as brutalidades e atrocidades que um espírito doente e cruel possa imaginar.

"Todas as semanas faziam experiências comigo. Depois levavam-me para um edifício especial onde realizavam exames. Aí injectavam-me um líquido na laringe. O meu pescoço inchava e eu ficava com febre, enjôos e vómitos. Isso destruiu a minha voz por completo" (Sr. Reichenberg, vítima de experiências médicas em criança num campo de concentração. Esta pessoa, hoje só pode falar com um aparelho que encosta à laringe e que sintetiza os sons produzidos).

"... estávamos de costas uns para os outros com as mãos cosidas. Era horrível! As feridas estavam cheias de pus, as crianças gritavam e é claro que as outras ficavam com medo. Era um inferno!" (Sra. Alexander, vítima de experiências médicas).

"Injectaram-me veneno. Até hoje não sei o que era. As experiências levaram a que ficasse paralizado a 2/3 com tremores e ataques epilépticos. Que vida!" (Sr. Offer, vítima de experiências médicas).

As experiências humanas dos médicos SS foram "justificadas" como serviço para a investigação científica e realizadas com autorização de Himmler. Ele sabia como justificá-las: "Quando deixo fazer experiências de vôos a grandes alturas em prisioneiros de guerra russos talvez esteja a salvar a vida de pilotos alemães!" (discurso secreto de Himmler). Ninguém sobreviveu a este tipo de experiências. "Nunca seremos rudes e insensíveis quando não fôr preciso. Isso é evidente! Nós, alemães, que somos os únicos no mundo com uma atitude decente em relação aos animais, tembém teremos uma atitude decente em relação a estes homens-animais" (discurso de Himmler). Até isso era mentira. Nada explica o aproveitamento de pessoas para fins de decoração doméstica senão o prazer do sofrimento humano.

Alguém que, em criança, brincou na casa de Himmler conta: "Havia uma sala pequena num sotão, com materiais de construção, digamos... Com móveis feitos com matéria-prima humana. Uma mesinha cujas pernas eram fémures, uma mesa de três pernas, acho eu. Havia uma espécie de assento feito com uma bacia humana e combinado com outros ossos, havia um abat-jour feito com pele humana e um grande exemplar do Mein Kampf de Hitler. Disseram-nos que o abat-jour era de pele humana, de pele das costas" (M. Bormann).

Hungria, Outouno de 1944, as judias húngaras são levadas para Auschwitz. Mas não foi possível guardar sempre o segredo do Reich e de Himmler mas, pelo menos, conseguia-se evitar que as vítimas soubessem dele e ninguém que sabia dos assassínios em massa tinha força para lhes pôr fim. O terror só veio depois da guerra, depois do crime.

Entretanto, começara a grande ofensiva do Exército Vermelho. Em inícios de 1945 a guerra está perdida. Finalmente o sonho de juventude de Himmler realiza-se. Torna-se soldado e até comandante, comandante supremo do grupo de exército Weissgel. Enquanto as suas SS travam as suas últimas batalhas, foge para o sanatório de Hohenlychen a 100Km a Norte de Berlim. Aqui cura doenças reais e imaginárias o que mostra a sua competência como comandante. Quem assume as suas funções militares é um general das forças armadas.

Sabendo no íntimo que tudo está perdido, sacrifica aqueles que ignoram esse facto. "Os nossos malditos inimigos vão ter de convencer-se de que, mesmo conseguindo uma invasão nalguma região da Alemanha, isso iria custar tais sacrifícios ao agressor que seria como um suicídio nacional" (discurso de Himmler).

Inicia-se o último recrutamento no país vencido. Agora são mobilizados os que até então tinham sido poupados, os velhos e as crianças. O culto da morte continua.

Himmler encontra-se em Hohenlychen e procura uma saída. O seu chefe de espionagem, Schelenberg, insiste em tirar o poder a Hitler e propor a rendição ao Ocidente. Mas Himmler não se atreve a retirar o poder a Hitler. Mas, secretamente, encontra-se com um emissário do mundo livre, o conde Bernardote, da Cruz Vermelha sueca. "A primeira vez que me encontrei com Himmler foi num sanatório em Hohenlychen, perto de Berlim. Foi no dia 15 de Fevereiro de 1945" (conde Bernardote).

Himmler desertara. O seu encontro com Bernardote, na moradia de Hohenlychen, fora traição. O fiel Heinrich negara o homem que idolatrara, tal como traíra e assassinara o seu pai espiritual, Röhm. Afastou-se embora com medo de Hitler.
Himmler e o seu massagista

A 20 de Abril de 1945, os poderosos do Reich reunem-se no bunker de Hitler, sob a chancelaria do Reich para festejarem aquele que seria o último aniversário do Führer. Himmler também está presente. É daqui que parte para a sua fuga. Dirige-se à propriedade do seu massagista, Félix Kerstssen, no Norte de Berlim. Aí, a altas horas da noite, encontra-se com um emissário do Congresso Mundial Judaico. Kerstssen trouxera-o da Suécia. O objectivo deste emissário é salvar o maior número possível de prisioneiros judeus do turbilhão em que o mundo dos campos de concentração de Himmler agora se afunda.

Himmler diz ao massagista "vamos esquecer a questão dos judeus". É como se Himmler já não soubesse quem é, como se tivesse esquecido o que era há pouco, como se depois do Holocausto fosse possível esquecer tudo tão facilmente. Himmler julga que o mundo o aceitará como interlocutor mas engana-se. Segundo relata Kerstssen, deixa a moradia com lágrimas nos olhos.

Em Hohenlychen, Bernardote aguarda Himmler. Este propõe fazer a paz com o Ocidente e continuar a guerra com os soviéticos: "De um momento para o outro alterou radicalmente os seus planos. Quis propor a paz aos americanos e aos aliados, com a Alemanha a lutar sozinha contra a Rússia" (Féliz Kerstssen). Bernardote transmite a proposta de rendição de Himmler. Os aliados não respondem. Em vez disso, uma notícia de uma emissora inimiga: "Himmler propôs a rendição incondicional à Grã-Bretanha e aos Estados Unidos mas não à União Soviética".

Justamente Himmler. A traição faz parte do declínio. "Disse que a pior desilusão que teve foi a traição de Himmler e referiu que a juventude cumprira o que Himmler lhe prometera que ela cumpriria" (acerca da reacção de Hitler). Na última fase da guerra, Himmler ainda havia procedido ao recrutamento dos jovens que restavam. Incontáveis rapazes da Juventude Hitleriana são mortos inutilmente na chamada batalha final. Eram a carne fresca para canhão.

Himmler acaba por saber da sua destituição e do suicídio de Hitler. Antes de se suicidar Hitler demitira Himmler de todas os seus cargos. Ainda fala de um Estado das SS mas já ninguém lhe dá ouvidos. A história ultrapassou-o, o seu poder passou, as negociações com Bernardote falharam. Mas estas negociações trazem a salvação in extremis a muitas das suas vítimas. A guerra ainda não acabou, no entanto. Himmler teve de ceder 1.500 prisioneiros, sobretudo escandinavos, a Bernardote para este se dispôr a entrar em conversações. Os libertados têm de atravessar a zona de guerra. Nos últimos dias da guerra ainda 100.000 prisioneiros perdem a vida. A Alemanha do Norte está em mãos britânicas. Himmler ainda tenta colar-se ao sucessor de Hitler, Dönitz, mas já não o querem. "Então formou-se uma espécie de governo e Himmler voltou. Começou a insinuar-se para obter um lugar ali e disse-lhe que, se pudesse ser, desaparecesse despercebidamente. Ele encaixou e desapareceu despercebidamente" (Kerstssen).

Dönitz rende-se: "... a rendição incondicional de todas as tropas combatentes, em todos os teatros de guerra..."

A 12 de Maio, Himmler atravessa o rio Elba no pequeno posto de Neuhauss. Com um nome falso, uma pala no olho, sem o seu pequeno bigode, num uniforme rasgado e acompanhado de alguns homens. Um ano perdido. Continua a pé a sua fuga, incógnito, no meio de inúmeros soldados alemães derrotados.

Chega a paz. Para Himmler, o fim. Em Bremmawert, uma pequena patrulha britânica prende o grupo de Himmler e leva-o para o campo de prisioneiros de Barnshtete, perto de Lindberg, um campo sobrelotado com prisioneiros de guerra. Heinrich Himmler mantém-se algures entre esses homens ainda incógnito. Dia 23 de Maio dá-se a conhecer. No dia seguinte são recolhidas imagens de dois ajudantes de Himmler também presos no campo. Não sabem que o seu chefe já morreu. Os soldados ingleses brindam à morte de Himmler (existe uma fotografia de um pequeno grupo de ingleses a brindarem e segurando uma grande cruz branca).
Himmler, depois do seu suicídio

"Antes de chegar não sabia que era Himmler. Só me tinham dito que havia um prisioneiro importante.
Quando entrou na sala não foi como a figura 'elegante' que conhecemos mas vestia a camisa da farda, umas cuecas e vinha enrolado num cobertor. Reconheci-o logo. Dirigindo-me a ele em alemão e apontando para um sofá, disse 'É a sua cama. Dispa-se'. Ele olhou para mim e depois para o intérprete e disse 'Ele não sabe quem eu sou'. Eu disse 'Sei sim, é Himmler, mas mesmo assim aquela é a sua cama. Dispa-se'. Fitou-me mas eu fitei-o também e ele acabou por baixar os olhos, sentar-se e tirar as cuecas.
Então o médico e o coronel entraram na sala e começaram a fazer uma inspecção de rotina, à procura do veneno que suspeitávamos que ele tinha. Procuraram nos dedos dos pés, no corpo inteiro, debaixo dos braços, nas orelhas, atrás das orelhas, no cabelo e, finalmente, na boca. Pedimos a Himmler que abrisse a boca. Ele abriu-a e passou a língua pelos lábios facilmente mas o médico não se deu por satisfeito e pediu-lhe para se aproximar da luz. Ele aproximou-se da luz e abriu a boca. O médico tentou pôr dois dedos na boca para ver melhor. Então, Himmler atirou a cabeça para trás, mordeu os dedos do médico e trincou a cápsula de veneno que trazia na boca há horas. O médico disse 'Ele conseguiu!". Morreu. Depois de ele morrer atirámos-lhe um cobertor para cima e deixámo-lo" (Oficial britânico encarregue do interrogatório de Himmler).



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