Perfil Cronológico da História Japonesa
Parte II -
(Do princípio do Daimyo à unificação do Estado) Voltar à página anterior


Por Bito Masahide, Ph.D. (professor de História Japonesa na Universidade de Chiba e Professor Emérito da Universidade de Tokyo) e Watanabe Akio, Ph.D. (Professor de Relações Internacionais da Universidade de Tokyo).

Agradecimentos: Embaixada do Japão em Portugal, ISEI (International Society for Educational Information, Inc. -Tokyo)


4. Princípio do Daimyo (Lorde Feudal): O Período Muromachi e a Idade dos Estados em Guerra (1333 - 1573)

Julgando que o poder do governo de Kamakura estava em decadência, a corte imperial do imperador Godaigo, em Kyoto, elaborou planos para derrotar o shogunato e finalmente obteve êxito em 1333, reconcentrando o poder político nas mãos do imperador. Este feito, entretanto, foi grandemente atribuído à cooperação da classe guerreira que tinha muitas queixas contra a família Hojo. Como o novo governo falhou em responder às expectativas dos samurais, dois anos mais tarde o líder samurai Ashikaga Takauji virou-se contra o imperador e forçou-o a escapar para Yoshino, sul de Quioto. Takauji estabeleceu um imperador rival em Kyoto e usou o seu apoio para criar um novo shogunato (o shogunato Muromachi). Estas circunstâncias levaram á existência de duas cortes, as cortes do Norte e do Sul, situação que durou quase sessenta anos até à capitulação da corte do Sul.

Em consequência desses desenvolvimentos, a família imperial perdeu todos os poderes políticos efectivos e o shogunato Muromachi actuou como governo central. A autoridade governamental, entretanto, era forte apenas aparentemente. Isto devia-se ao facto de os protectores provinciais do Japão não serem mais que meros oficiais provinciais; eles tinham organizado guerreiros locais para a formação de exércitos baseados nos modelos de lorde e vassalo e tinham-se tranformado em barões feudais que governavam em áreas locais independentes. Este novo tipo de líder regional foi conhecido como daimyo. Os daimyos lutavam frequentemente entre si mesmos o que não os veio a impedir de assumirem o governo central. A Guerra Onin, que começou em Kyoto em 1467, alastrou rapidamente a todo o Japão, precedendo a Era que se chamaria "Idade dos Estados em Guerra", que durou um século inteiro.

Durante os períodos Muromachi e Estados em Guerra, a ordem do Estado antigo e o sistema de propriedades privadas que o sustentava sucumbiram à medida que ia aumentando o poder das classes guerreira e campesina. Tanto uns como outros criaram organizações locais autónomas. As cidades que haviam sido construídas em rotas de comércio principais ficaram sob administração de grupos de cidadãos armados. Os daimyos que dirigiam a incorporação das várias entidades autónomas nos seus próprios sistemas políticos tornaram-se personalidades muito bem sucedidas. Simultaneamente, algumas cidades como Sakai (perto de Osaka) esforçavam-se por manter a sua independência face aos daimyos. A emergência de vários centros políticos e económicos caracterizou esta idade tornando a sociedade Muromachi muito diferente daquela do sistema do Estado antigo, que concentrava o poder na capital.

Apesar do incessante estado de guerra desta idade, desenvolveram-se sofisticadas formas teatrais, tais como o drama "no" e "kyogen" (interlúdios cómicos). Do mesmo modo, muitos dos elementos característicos da moderna cultura japonesa, tais como os estilos de arquitectura, pintura, canções e poesia, remontam a esta Era. A cerimónia do chá e a arte de arranjos florais (ikebana) também se desenvolveram nesta idade.

Em 1543, um navio português foi chegou a Tanegashima (uma pequena ilha na extremidade Sul de Kyushu) trazendo nele as primeiras armas de fogo a serem introduzidas no Japão. Em 1549, Francisco Xavier, o jesuíta espanhol, chegou a Kyushu e começou a propagar o cristianismo no Japão. Estes foram os primeiros exemplos de contacto entre o japão e a cultura ocidental. Rapidamente se iniciou a produção de armas de fogo em vários locais do Japão (incluindo Sakai). O cristianismo expandiu-se rapidamente, particularmente na região Oeste do Japão. Um missionário enviou um relatório a Roma no qual ele comparava Sakai a Veneza como uma cidade politicamente autónoma.

5. Unificação do Estado Pela Classe dos Samurais: O Período Azuchi-Momoyama (1573 - 1603)

Alguns dos grandes daimyos lutaram para unificar todo o Japão sob sua autoridade. Oda Nobunaga foi o primeiro a obter sucesso, seguido por seu sucessor, Toyotomi Hideyoshi. Nobunaga foi um lorde feudal que governou uma área perto da atual cidade de Nagoya. Em seu avanço a Quioto, destruiu os últimos vestígios do shogunato Muromachi, revivendo a autoridade da corte imperial sob seu próprio apoio. Após o assassinato de Nobunaga por um de seus próprios vassalos, Hideyoshi, outro vassalo de Nobunaga, continuou seus esforços para a unificação do Japão. Obteve êxito nesta unificação em 1590, quando conseguiu trazer todas as cidades e barões do Japão sob seu controle.

Nobunaga tinha construido seu castelo em Azuchi (atual prefeitura de Shiga), mas Hideyoshi construiu o seu em Fushimi (Momoyama) e em Osaka, fazendo-os o centro de seu poder. Osaka tinha um bom porto, e a medida que desenvolveu-se, Sakai gradualmente entrou em declínio. Hideyoshi realizou uma investigação das áreas agrícolas através do Japão para averiguar a produtividade das terras e impor taxas sobre os camponeses, de acordo com uma norma sistemática. Ele também realizou uma "caça à espada", que confiscava todas as armas dos camponeses e templos, e estabeleceu uma clara distinção entre o samurai e todas as outras classes. A investigação também identificou o tamanho dos domínios dos daimyos em termos de produtividade de arroz, tornando possível a troca de um daimyo de uma para outra região. De fato, Hideyoshi freqüentemente ordenou lordes locais a moverem-se de uma área a outra juntos com seus dependentes. Em conseqüência, o daimyo e seus dependentes assumiram o caráter dos oficiais regionais em uma estrutura de estado unificado, assim como o da força militar.


Através desta unificação o Japão tornou-se um país mais pacífico. A concentração de comerciantes, artesões, e guerreiros nas cidades, serviu para acelelar o desenvolvimento do comércio e intercâmbio comercial. Além disso, um aumento na produção de ouro e prata contribuiu para a prosperidade da vida urbana. Os castelos dos daimyos e de Hideyoshi foram construídos em estilos suntuosos e decorados internamente com esplêndidas pinturas. Aproveitando seu sucesso na unificação do Japão, Hideyoshi também invadiu a Coréia em duas ocasiões. Esses esforços, entretanto, terminaram em fracasso.