Perfil Cronológico da História Japonesa
Parte IV -
(Da Restauração Meiji ao Final da II Guerra) Voltar à página anterior


Por Bito Masahide, Ph.D. (professor de História Japonesa na Universidade de Chiba e Professor Emérito da Universidade de Tokyo) e Watanabe Akio, Ph.D. (Professor de Relações Internacionais da Universidade de Tokyo).

Agradecimentos: Embaixada do Japão em Portugal, ISEI (International Society for Educational Information, Inc. -Tokyo)


7. O Desenvolvimento de Um Estado Moderno: Da Restauração Meiji até O Final da II Guerra Mundial (1868-1945)

As transformações das condições sociais, económicas, e intelectuais durante as primeiras décadas do século XIX enfraqueceram a autoridade do shogunato Tokugawa e sua abilidade em responder às novas forças sociais e políticas. Estas transformações resultaram particularmente no aumento em influência de uns poucos e importantes daimyos, que haviam estado excluídos da política nacional. A chegada dos estrangeiros na metade do século apenas acelerou o já avançado processo do enfraquecimento do shogunato de Tokugawa, que acabou com a restauração do poder político ao imperador em 1868. Suportados pelas forças emergentes, recrutadas principalmente da tradicional classe governante, o novo governo estabeleceu rapidamente uma estrutura de administração centralizada, com Tóquio (antiga Edo) como a nova capital. Estas transformações políticas foram justificadas em termos de um retorno às formas antigas de governo imperial, e por isso ficaram conhecidas como a Restauração Meiji, usando o nome do imperador.

A transferência do poder ao trono, no entanto, era somente uma parte de uma política mais ampla, culminando em muitas inovações no campo político, na inauguração do governo constitucional de 1890. Parcialmente em resposta ao movimento entre o povo pedindo por uma assembléia popular, e parcialmente de sua própria convicção que um certo grau de participação popular no governo proporcionaria uma unidade nacional, e assim aumentando a resistência da nação, os líderes do novo estado decidiram instituir um governo constitucional modelado no europeu, especialmente na Alemanha. Circunscrito substancialmente pelo executivo (que também era modelado no ministério europeu), onde está o efetivo poder, e também pela Câmara Alta não eletiva, composta principalmente pela aristocracia, a Câmara dos Comuns foi eleita por aproximadamente 500.000 eleitores que satisfizeram as qualificações de taxas (a população do Japão naquela época era de aproximadamente 40 milhões). Isto proporcionou uma abertura através da qual os partidos políticos puderam ganhar terreno.

A era Meiji (1868-1912) também trouxe significantes inovações nos campos sociais e econômicos. Os agricultores, livres do controle feudal, puderam assegurar a possessão de suas terras legalmente. Declararam-se todas as classes sociais como iguais perante a lei, embora algumas das formas convencionais de discriminação social desapareceram com muita dificuldade. A população, que tinha permanecido relativamente estável em tamanho, começou a crescer rapidamente, trazendo uma jovem população trabalhadora, tanto de homens como de mulheres, aos centros urbanos. Algumas indústrias agrícolas nativas, tais como da produção de algodão e sementes de colza desapareceram rapidamente frente à competição com o estrangeiro. Por outro lado, a dobação de seda e fiação de algodão, entre outras, que usavam matéria prima importada, desenvolveram-se em bem sucedidas e competitivas indústrias de exportação, tanto pela introdução das técnicas nativas como pela importação sistemática de técnicas estrangeiras. Embora grandemente ajudados pela política econômica e fiscal do governo-que proporcionava a infraestrutura necessária tais como os modernos bancos, transporte (redes ferroviárias e rotas de navio a vapor), comunicações, (correio, telégrafo, e telefone), educação e sistemas legais (os códigos civil e penal)-a industrialização foi realizada pela iniciativa privada.

Um dos maiores objetivos nacionais que moveram os líderes da era Meiji era o de alcançar uma igualdade com os poderes ocidentais. Os líderes fizeram conscientes e consideráveis esforços a fim de reconsiderar os tratados de "desigualdade", assinados pelo governo Tokugawa, que concedia privilégios econômicos e judiciais a estrangeiros. A extraterritorialidade (isto é, aquelas cláusulas que isentavam os estrangeiros residentes no Japão da jurisdição japonesa) foi abolida em 1894. O Japão adquiriu uma autonomia de taxação através de uma nova série de tratados assinados em 1911 com as potencias ocidentais. As várias reformas internas descritas anteriormente foram realizadas, em parte pelo menos, almejando o reconhecimento do Japão pelas potências ocidentais como um país em igualdade de condições com os mesmos na moderna sociedade internacional.

Juntamente com esses esforços para rever os "tratados de desiguladade", os líderes do governo procuraram fortalecer a posição do Japão na Ásia Oriental. Um dos principais assuntos levados em consideração rapidamente foi a clarificação das fronteiras do Japão. A fronteira entre o Japão e a Rússia tinha sido formalmente estabelecida pelo tratado de 1855. O tratado de 1875 reconhecia a soberania da Rússia sobre Sakhalin (que tinha sido cohabitada por russos e japoneses até então), enquanto que dava ao Japão a soberania sobre toda a cadeia das ilhas Kurile. O governo japonês também incorporou o reino dos Ryukyus sob a administração japonesa como a prefeitura de Okinawa.

O governo japonês também procurou extender a influência japonesa sobre a Coréia que naquela época mantinha uma relação tributária com a China. Em conseqüência, as tensões criadas com a política do Japão na Coréia provocou um conflito armado entre o Japão e a China em 1894-95, terminando com uma vitória para o Japão. Uma das conseqüências da guerra foi a adquisição pelo Japão de Formosa como uma colônia.

Neste intermédio, a Rússia também tentou exercer sua influência sobre a Coréia construindo sua força econômica e militar na Manchuria (província do nordeste da China). O Japão, aliado com a Grã-Bretanha, resistiu às pressões russas e ambos países finalmente recorreram às armas (1904-05). Novamente vitorioso, o Japão manobrou para evitar que outras potências exercessem qualquer influência sobre a Coréia e finalmente anexou a Coréia como uma colônia.

Quando o Imperador Meiji faleceu em 1912, o Japão já tinha transformadose em um moderno estado, equipado com uma firme base de industrialização e um sistema altamente centralizado de governo; e tinha tornado-se a potência militar mais forte da Asia. Podia-se dizer que o lema da época "País Rico, Força Militar" tinha sido realizado.

A I Guerra Mundial (1914-18) deu ao Japão a chance de melhorar ainda mais sua posição internacional. Economicamente, o desenvolvimento rápido da guerra deu um poderoso ímpeto ao comércio e acumulação de capital, trazendo o crescimento de novas indústrias tais como químicas, metalúrgicas, de maquinaria, e hidroeletricidade. O balanço do comércio voltou-se a favor do Japão, algo excepcional para aqueles anos. O Japão tomou uma parte nominal na guerra de acordo com a Aliança Anglo-Japonesa e recebeu um status de privilégio na nova criada Liga das Nações.

O rápido crescimento económico (num período de cinco anos entre 1916 e 1920 o PNB cresceu numa média anual de 6,8 porcento) foi acompanhado por visíveis transformações das condições sociais e intelectuais da sociedade japonesa. O desenvolvimento industrial produziu uma grande população urbana, criando vários problemas sociais. No verão de 1918, uma grande escala de tumultos sociais disparados pelo aumento violento dos preços do arroz espalharam-se rapidamente a muitas cidades através do país. As pobres condições de trabalho em muitas fábricas proporcionaram terreno para os movimentos trabalhistas, que também eram encorajados por vários tipos de ideologias recém introduzidas, incluindo o Marxismo inspirado nos soviéticos. As vilas eram cenários de crescente descontentamento entre os pobres agricultores. O Grande Terremoto de 1923 na área de Tóquio- Yokohama produziu um outro grande choque aos sentimentos do público.

Nessas circunstâncias problemáticas, os líderes do partido dominante (contrários a burocratas do governo) obtiveram êxito pela primeira vez em formar um governo em 1918. Eles adotaram uma política financeira positiva encorajando as atividades económicas. Nesta época, por exemplo, ralizou-se um ambicioso plano para a construção de ferrovías e sistemas de rodagem. Esta política económica positiva obteve êxito em sua própria maneira, mas falhou em trazer uma nova ordem política e social congruentes com a rápida transformação das condições doméstica e internacional. Domesticamente, o extremismo político, tanto da ala direita como da esquerda, ganharam terreno capitalizando os crescentes problemas sociais. Externamente, o Japão tinha que enfrentar um nacionalismo despertado do povo asiático, enquanto que seu ambicioso plano de construir uma poderosa marinha começou a criar conflitos com os Estados Unidos, assim como com sua antiga aliada, a Grã- Bretanha. A pesada carga financial imposta pela corrida armamentista com as potências foi um pouco aliviada pelos acordos de limitação naval de Washington (1922) e Londres (1930), mas estes acordos internacionais foram vistos por elementos nacionalistas como uma derrota diplomática insuportável. As condições da economia mundial também piorou, especialmente após o "grande pânico" em 1929, causando um nacionalismo econômico violento. Então, as exportações japonesas começaram a enfrentar cada vez mais resistência no mercado estrangeiro. Sendo incapaz de encontrar as demandas dos problemas internos e externos, os ainda fracos ministérios deram lugar a extremistas militares, que eventualmente assumiram o controle do governo.

O Japão dos anos 1930 procurou seu caminho através de incertezas. Na falta de uma política prudente, o país arrastou-se pouco a pouco à expansão militar no continente asiático, começando com a criação do estado da Manchuria em 1932. Rompeu-se um conflito armado entre as forças japonesas e chinesas perto de Beijing no verão de 1937 e a luta extendeu-se a Xangai e outras áreas da China. Esta ação por parte do Japão causou uma forte reação de alguns países, incluindo os Estados Unidos, que tentaram deter o Japão através de uma série de sanções econômicas. Quando a guerra irrompeu na europa em 1939, o Japão encorajou-se pelo sucesso inicial da Alemanha e Itália-seus aliados-no teatro europeu, tomando vantagem desta situação para colocar a Indochina Francesa (atual VieW1ã)sob seu controle. Em dezembro, 1941, o Japão entrou na guerra contra as Forças Aliadas lideradas pelos Estados Unidos. Apesar do sucesso inicial do Japão, a indústria e militares americanos gradualmente destruiram o Japão. Perto do fim do conflito em agosto de 1945, a União Soviética também entrou na guerra, apesar de seu tratado de cinco anos de neutralidade com o Japão. A queda das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki deram o golpe de misericórdia ao Japão, que rendeu-se a 15 de agosto de 1945, sob os termos estabelecidos pelas Forças Aliadas na Declaração Potsdam.