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Biografia de Ferreira de Castro - Segundo
o Museu Ferreira de Castro em Sintra -
Este texto faz parte do guia da exposição
permanente sobre a vida de Ferreira de Castro que pode ser vista
no Museu Ferreira de Castro.
Infância: 1898-1911
José Maria Ferreira de Castro nasceu a 24
de Maio de 1898, na aldeia de Salgueiros, freguesia de Ossela, concelho
de Oliveira de Azeméis. O mais velho de cinco irmãos,
era filho de José Eustáquio Ferreira de Castro - que
faleceu quando o futuro escritor tinha três anos - e de Maria
Rosa Soares de Castro.
A infância foi igual à de tantas outras
crianças filhas de camponeses. Aprendia na escola, com o
professor Portela, o abc e as elementares operações
aritméticas. O necessário, em suma, à vida
quotidiana; ia à catequese, ensinada pelo padre Carmo, que
lhe minitrou o sacramento da comunhão.
Um dia, quando se falava muito no reaparecimento
do cometa Halley, o sacerdote deu-lhe para recitar numa festa escolar
uma poesia de Faustino Xavier de Novais sobre um cometa que aterrorizara
as gentes do século XIX. Como prémio recebeu aquele
que terá sido o seu primeiro livro, excluindo a cartilha
e o catecismo: Do Algarve ao Minho em Automóvel, do
jornalista Eduardo de Noronha.
Um primeiro prémio que o pequeno Zeca terá
saboreado com voracidade, pois já nesse tempo o fascínio
da letra de forma, as pobres historietas de cordel apregoadas nos
mercados, exerciam sobre ele forte atracção. Anos
mais tarde, o escritor recordava: "A 'História do João
Soldado' e outros folhetos onde se narravam, em verso, dramas absurdos,
folhetos que se vendiam nas feiras, passaram a ser para mim tão
fascinadores como os doces, os camarões e os fogos de S.
João, que ali se queimavam no Carnaval. Que pena não
ter dinheiro para comprar todos esses livrecos que se vendiam juntamente
com o Borda D'Água e medalhas bentas!"1
Os primeiros anos foram de intensa comunhão
com a Natureza envolvente. Trilhava os caminhos, deambulava por
entre as árvores, quedava-se à borda do Caima, "minha
paixão, de água azul, fleumática, reflectindo
a longa teoria dos amieiros ribeirinhos, enquanto deslizava para
as lonjuras que ela desconhecia, que eu desconhecia também
e já nesse tempo amava com veemência."2
Um amor pueril iria dar novo rumo à sua vida.
Apaixonara-se por Margarida, que aos dezoito anos pouco ligava à
criança que ele, com pouco mais de dez ainda era. Um acto
temerário agigantá-lo-ia, decerto, aos olhos de Margarida.
Decidiu, a exemplo do que faziam muitos homens e rapazes da sua
idade, emigrar para o Brasil, proeza que espantaria tudo e todos.
No dia da partida, porém, Margarida não
estava lá.
1 Texto memorialístico
em Ferreira de Castro e a Sua Obra, Livraria Civilização,
Porto, 1931, pp 16 e 17.
2 "A Aldeia
Nativa", Obras de Ferreira de Castro, vol. IV, Lello
& Irmão, Porto, 1975, p. 1133.
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